terça-feira, 28 de junho de 2016

NILTON SANTOS - A ETERNA ENCICLOPÉDIA

NILTON SANTOS
"Enciclopédia" vem do grego antigo "enkyklios paideia", que significa literalmente "educação circular". Ou, numa tradução muito livre, "conhecimento da bola". Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol, nasceu na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1925. Foi o primeiro de sete filhos de um pescador. Cresceu até 1,81 metro e falava muito baixo. Daí seu primeiro apelido: "Chiado".
      Foi descoberto por um oficial da Aeronáutica. Em 1948 já estava com a estrela solitária no peito. Chutava bem com os dois pés. Não dava carrinhos. Nunca perdeu uma decisão. Definição do cronista Maneco Muller: "Ele detestava marcar adversários como um policial perseguindo criminosos. Gostava de jogar e deixar jogar". O ponta Pepe é mais cinematográfico: "Ele marcava pelo lado de dentro, empurrava o ponta para a bandeirinha de escanteio, encurralava e o desarmava, com elegância e sutileza".
      Em 1953, treinava entre os titulares do Botafogo quando levou um drible humilhante de um reserva chamado Mané. Nilton Santos ficou possesso. Exigiu que tal número 7 virasse titular para não ter que aturar uma insolência daquelas. E foi assim que Nilton conheceu Garrincha.
      Jogou 723 partidas pelo Botafogo em 16 anos. Pela seleção, fez 84 jogos entre 1948 e 1962. Atuou em quatro Copas. Na de 1958 roubou a bola no seu campo e saiu driblando a defesa da Áustria. O técnico Vicente Feola se apavorou: "Volta! Volta!". Nilton não voltou. Fez uma tabela com Mazola e encobriu o goleiro. Como um atacante.
      Quatro anos depois, estava no Chile. No jogo de classificação contra a Espanha, quem perdesse estava fora. E o Brasil começou levando 1 x 0. O atacante Enrique Collar entra no miolo da área brasileira. E encontra o paredão Nilton Santos. O espanhol se joga. O juiz apita. Malandro, Nilton dá um passo para fora da área. E lá o juiz marca a cobrança da falta. Nilton Santos aposentou-se dois anos depois. A Fifa o declarou em 2000 o melhor lateral esquerdo de todos os tempos.
      Nilton Santos teve uma vida difícil nos seus anos de aposentadoria. Sofria com o mal de Alzheimer. O Botafogo pagava suas despesas hospitalares. Conseguiu comprar uma casa em Araruama (RJ), pertinho da praia.
      Em 2005, ao completar 80 anos, deu um depoimento completamente ranzinza para PLACAR: "Não sou herói. Eu quero ser esquecido!" Enciclopédia só queria ficar sozinho com sua (segunda) esposa, Maria Coeli, e seu cachorro Podi.
      Morreu aos 88 anos às 15h50 do dia 27 de novembro de 2013 na Fundação Bela Lopes. Infecção pulmonar. Deixou dois filhos do primeiro casamento, Carlos Eduardo e Andrea. Mas Nilton Santos continua altivo na estátua no Engenhão. Sorri com as mãos na cintura e a bola de bronze debaixo da chuteira,

Por Dagomir Marquzi - Revista Placar - Edição Nº 1.386 - Janeiro de 2014

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